Por onde começar? Não é tarefa fácil olhar neste início de
semana para o Brasil político, sem ser acometido por uma inevitável
sensação de nojo para ser ameno com os poucos mas generosos
leitores deste modesto e as vezes inquieto observador da cena
política nacional e local.
Prometi e me esforço para honrar, que não serei pessimista,
negativo, radical, injusto e/ou catastrófico no que me encorajei a
escrever, de vez em quando, sobre a exagerada dinâmica da política
brasileira. Outra preocupação é de permanecer distante, bem
distante, da tentadora pretensão de ser dono da verdade. Mas calar
simplesmente, também não dá, não é possível. Pois é inevitável
lembrar do que tantas vezes já disseram, e no que acredito, que o
perigo maior quase sempre não são os gritos e as ações dos maus,
mas o silêncio e a omissão dos bons. Retórica à parte, é sabido
que a passividade pura e simples é um campo fértil para a invasão
absurda do inaceitável. Não resta nenhuma dúvida de que é disso
mesmo que se trata.
Muita
calma nessa hora, caríssimos! Mas diante do que vimos e ouvimos
exaustivamente ao longo desses últimos dias, somos impulsionados
ainda que isoladamente a refletir sobre a velha mas sempre
atualizadíssima frase: “que país é esse”, minha gente?
Acredito que nem o incrível poeta Renato Russo ao compor a
revolucionária canção, imaginava que seria possível
materializar-se suas intuições. Composta em 1987, foi naquele ano a
música mais tocada no Brasil.
Após
um angustiante conta-gotas a partir do início da Operação Lava
Jato, somos agora involuntariamente servidos um cardápio
“riquíssimo” de corrupção cujo alcance elimina as honrosas
exceções. “Não há um político eleito no Brasil que não tenha
caixa dois”, afirmou categoricamente o “tesoureiro-mor” do
país, o bem sucedido empresário preso Marcelo Odebrecht, em
depoimento transmitido para o mundo. Ele fala com a autoridade de
quem negociou pessoalmente as “tenebrosas transações”. Há de
merecer crédito, pelos indícios e provas apresentadas assim como
pela verossimilhança entre o que disse e sobre quem disse.
E
agora, Brasil? Não teriam suas Excelências, passado de todos os
limites? O que fazer? É a pergunta que se impõe em meio a uma
gravíssima crise econômica, gerada a partir da desorganização
total do estado, cuja recuperação, se houver, levará alguns anos
para se realizar.
A
indignação, embora seja um valor humano legítimo, por sí só, não
é suficiente. Em uma nação democrática – o Brasil vive uma
Democracia – o povo tem, por óbvio, direitos e deveres previstos
na Constituição cidadã de 1988, cuja lembrança nos remete ao
saudoso Ulisses Guimarães. Os deveres cidadãos são
compulsoriamente exigidos dos cidadãos todos os dias, e às vezes,
de forma não muito justa. Já os direitos, esses lhe são negados
para abastecer as inimagináveis negociatas ocorridas nas sombrias
salas palacianas e empresariais Brasil afora.
Por
onde começar. Esperar reformas sérias e justas a partir dos atuais
congressistas é um exercício exagerado de inocência e otimismo.
Suas Excelências estão mais preocupados na elevação do imoral
Fundo Partidário de 380 milhões para algo em torno de 2 bilhões de
reais já para 2018, e na aprovação da anistia geral e irrestrita
ao Caixa 2, pasmem.
Então,
o que fazer? Acreditar e esperar que o Poder Judiciário cumpra sua
missão constitucional. Mas não apenas isso. Não é possível
acreditar que haverá transformação para melhor do país, sem a
participação efetiva dos brasileiros. Em outubro de 2018, seremos
outra vez juízes nas cabines indevassáveis (será?) das urnas, onde
podemos ainda – democraticamente -, decidir sobre quem nos
representará. Não é tudo, mas certamente o primeiro passo para
termos um Brasil sério, democrático e justo para os brasileiros.
Nada diferente disso. Afinal, merecemos no mínimo, respeito!