sábado, 21 de maio de 2011
Leitura Dinâmica: o poder das palavras e as verdades de Amanda Gurgel
A professora Amanda Gurgel elevada à condição de celebridade só deseja o reconhecimento e o respeito a sua categoria como professora estadual do RN
O Blog não concorda com a exploração midiática dos fatos, mas o episódio protagonizado pela lúcida e consistente professora Amanda Gurgel continua a merecer as atenções não mais de seu estado - o RN - mas o prestígio da mídia nacional pela inadiável necessidade de se enfrentar a questão da Educação no país. Até porque as realidades estaduais da Educação são muito parecidas.
Assim, "Leitura Dinâmica" tenta contribuir para a reflexão que o caso requer, transcrevendo literalmente a fala de Amanda Gurgel.
Tudo começou na Audiência Pública realizada no dia 10 de maio, na Assembléia Legislativa do Rio Grande do Norte. Com poucos minutos disponíveis, a professora foi precisa e irretocável na abordagem do atual quadro da Educação no estado, falando para a secretária estadual de Educação, professora Bethania Bezerra e para um grupo de deputados presentes à solenidade.
Sem gritos nem clichês, Amanda se fez ouvir com atenção por sua clareza e verdades ditas com serenidade e pleno conhecimento da causa que defendia.
Eis a íntrega de sua fala:
“Durante cada fala aqui eu pensava em como organizar a minha fala. Porque são tantas as questões a serem colocadas e tantas as angústias do dia a dia de quem está em sala de aula, que eu queria pelo menos conseguir sintetizar minimamente essas angústias.
“Como as pessoas sempre apresentam muitos números e dizem que eles são irrefutáveis, eu gostaria também de apresentar um número que é composto por três algarismos apenas, bem diferentes de tantos números que são apresentados aqui com tantos algarismos: é o número do meu salário, R$ 930, com nível superior e especialização.
“Eu perguntaria a todos aqui, mas só respondam se não ficarem constrangidos, se vocês conseguiriam sobreviver ou manter o padrão de vida que vocês mantêm, com esse salário. Certamente não conseguiriam.
“Não é suficiente nem para pagar a indumentária que os senhores e as senhoras utilizam para poder frequentar esta Casa. A minha fala não poderia partir de um ponto diferente, porque só quem está em sala de aula, só quem pega três ônibus por dia para chegar a seu local de trabalho é que pode falar com propriedade.
“Fora disso, qualquer consideração aqui é apenas para mascarar uma verdade visível a todo mundo: em nenhum governo, em nenhum momento no nosso Estado, na nossa cidade, no nosso país a educação foi uma prioridade.
“Então, me preocupa muitíssimo a posição da maioria, inclusive da secretária (de Educação) Betânia Ramalho, de não falarmos sobre a situação precária porque isso todo mundo já sabe.
“Como assim, não vamos falar da situação precária? Gente, estamos aceitando a condição precária da educação como uma fatalidade?
“Estão me colocando dentro de uma sala de aula com um giz e um quadro para salvar o Brasil, é isso?
“Salas de aulas superlotadas com os alunos entrando com uma carteira na cabeça porque não têm carteiras nas salas e sou eu a redentora do País? Não tenho condições, muito menos com o salário que recebo.
“A secretária disse que não podemos ser imediatistas, que precisamos pensar a longo prazo. Mas a minha necessidade de alimentação é imediata. A minha necessidade de transporte é imediata, a necessidade dos alunos de ter uma educação de qualidade é imediata.
“Eu gostaria de pedir aos senhores que se libertem dessa concepção extremamente equivocada, e digo isso com mais propriedade do que os grandes estudiosos: parem de associar a qualidade da educação com professor dentro da sala de aula.
“Não há como ter qualidade em educação com professores trabalhando em três turnos seguidos, multiplicando seus salários: R$ 930 de manhã, R$ 930 de tarde, R$ 930 de noite para poder sobreviver. Não é para andar com bolsa de marca nem para usar perfume francês.
“É para pagar a alimentação de seus filhos, para pagar a prestação de um carro que muitas vezes compram para se locomover mais rapidamente entre uma escola e outra.
“Não me sinto constrangida de apresentar meu contracheque, porque penso que o constrangimento deve ser de vocês.
“Lamento, mas deveriam todos estar constrangidos. Entra governo e sai governo e o que se solicita de nós é paciência e tolerância.
“Quero pedir à secretária paciência também porque nós não aguentamos mais esse discurso.
“Não podemos ser responsabilizados pelo caos que na verdade só se apresenta para a sociedade quando nós estamos em greve, mas que está lá todos os dias dentro da sala de aula, em todos os lugares.
“São muitas questões mais complexas que precisariam ser postas aqui. Mas infelizmente o tempo é curto e é isso que eu gostaria de dizer em nome dos meus colegas que pegam três ônibus para chegar ao local de trabalho, em nome dos estudantes que estão sem aula agora por causa da greve, mas que ficam sem aula por muitos outros motivos.”
Segundo as próprias palavras de Amanda, ela não pretende transformar-se em celebridade mas tão somente ser ouvida e assim poder contribuir para a categoria profissional a que pertence - a de professora.
"Sinto que é uma missão. Se eu conseguir mobilizar a categoria na internet e nas ruas para pressionar o governo, talvez eu tenha plantado uma semente que poderá, um dia, render frutos inéditos."
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Muito boa a matéria.
ResponderExcluirA gente precisa de gente como Amanda, que tem coragem de enfrentar o descaso com a educação no Brasil e em especial no RN. Talvez nossos gorvernantes se constrajam e façam alguma coisa.
e preciso acabar com os discursos de doutores alienados e colocar p falar professores q estao diariamente em sala de aula. porq as vezes parece q esses doutores estao falando de outro Brasil.
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