Marco Aurélio, presidente do TSE: "A sociedade não é vítima, é a culpada. Reclama do governo e se esquece de que quem colocou os políticos lá foi ela própria".
Com a devida vênia, há controvérsia na sincera afirmação da mais alta autoridade eleitoral do país, o ministro e presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Marco Aurélio, que comandará as próximas eleições para presidente da República, senadores, deputados e governadores.
Com mais de trinta partidos registrados, surgem candidatos que nem eles mesmos acreditam que são candidatos, dada a inviabilidade de terem algum sucesso, mas se prestam ao insucesso movido por interesses menores e por algum benefício financeiro proporcionado pelos inaceitáveis fundos partidários. Sim, parte da altíssima carga tributária que o contribuinte brasileiro paga abastece os partidos políticos, sem nenhuma reciprocidade de benefício coletivo.
Com uma injustificável e autoritária obrigatoriedade de votar - embora lembremos estamos numa Democracia - é comum nos depararmos com candidatos nos quais nunca votaríamos. Por esse viés, não parece justa a afirmação de que a sociedade é culpada e não vítima. A alternativa do voto em branco ou nulo não resolve o problema pois acaba favorecendo exatamente aquele candidato em que não se votaria.
A meia culpa é a da reconhecida memória curta do eleitor brasileiro, que tem reconduzido ou reeleitos políticos condenados até pela mais alta corte de Justiça, por crimes diversos que vão de desvios de recursos públicos a formação de quadrilhas. E não se pode dizer que são casos isolados. Apenas para arejar a memória, como aceitar ou compreender que o senador Renan Calheiros pudesse retornar à presidência do Senado Federal tão pouco tempo após ser destituído do cargo por falta de decoro parlamentar e enriquecimento ilícito? Importante lembrar que foi reconduzido através dos votos dos seus pares, senadores, representantes do povo que os elegeram. Isso para citarmos um exemplo mais recente.
Não exatamente a maior culpa mas a maior responsabilidade a ser atribuída à sociedade é a de que ela realmente assume poder decisório na hora do voto, da escolha, com real possibilidade de "condenar" candidatos indesejáveis para representá-los, prerrogativa garantida pela imperfeita mas importante e indispensável Democracia vigente no país.
A sociedade a que nos referimos é aquela composta por eleitores independentes e politizados, embora minoritários. A maioria lamentavelmente ainda é constituída por beneficiários dos bolsas família, vale-gás e outros do gêneros, que merecem toda a compreensão. Com carências extremas, não há como exigir deles, alguma independência.
O fato é que as oportunidades para a sociedade tentar corrigir os rumos da nossa combalida Democracia continuam. Outubro próximo é mais uma dessas chances de se tentar elevar o nível dos nossos representantes nos parlamentos e gestões públicas do país, sob pena de continuarmos culpados pelos descaminhos da nação campo institucional. É no momento indevassável do voto em que nos transformamos em reais juízes do nosso destino como integrante de uma sociedade que desejamos como mais justa, igualitária e solidária.
A crítica pode ser uma excelente ferramenta para aperfeiçoamos a nova visão do que fazemos. E, sobretudo, aprendermos com ela.
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