sábado, 24 de abril de 2010
Leitura Dinâmica: Souto Sobrinho - um areia-branquense que fez a diferença
Leitura Dinâmica de hoje presta uma simples mas justa e merecida homenagem a Francisco Souto Sobrinho. Não trata-se de uma homenagem póstuma, uma vez que o texto abaixo foi pronunciado na Missa comemorativa de seus 80 anos, em 2004, na Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição, em Areia Branca. Na oportunidade, este blogueiro foi convidado para fazer a saudação ao aniversariante. A publicação agora do texto abaixo é uma reafirmação do que pensamos sobre o nosso ilustre areia-branquense que honrou e tanto contribuiu para a história de Areia Branca:
Ser produtivo na vida é uma virtude que deve ser comum a todos os cidadãos. Na prática, nem sempre é assim. Menos comum é encontrar homens que decidem acrescentar às suas atividades normais do seu cotidiano, tempo para se dedicar à prestação de serviços voltados para o bem comum. Mais difícil ainda é identificar quem, com todas as possibilidades de alçar vôos mais altos com grandes chances de uma bem sucedida carreira profissional no ramo do Direito ou do Magistério, mundo afora, optar pelas limitações geográficas e humanas do pequeno mais vigoroso porto que lhe viu nascer: Areia Branca. A decisão certamente baseou-se no que existe de mais seguro para a navegação pelos mares e rios da vida, rumo a um porto seguro: a crença no seu próprio talento e na sua competência. Mais ainda: a convicção de que é possível ser feliz, pisando o chão salgado de suas telúricas origens.
Estes foram os requisitos que certamente levaram SOUTO SOBRINHO a fazer a opção pela permanência por toda uma vida, na sempre apaixonante cidade das salinas. Sua ausência, temporária, limitou-se ao indispensável tempo em que, involuntariamente, como tantos outros conterrâneos, teve que buscar conhecimentos em outros portos, face às naturais limitações escolares de sua querida terra natal. Rio de Janeiro, Recife, Fortaleza e Natal, por exemplo, foram terras visitadas pelo nosso navegante octogenário, que corajosamente e absolutamente fiel ao solo salineiro areia-branquense, não se deixou seduzir pela grandiosidade geográfica nem pelas promissoras possibilidades profissionais das grandes cidades. Delas, soube absorver e acumular, com sabedoria, conhecimentos importantíssimos para, voltando ao seu chão natural, aplicar com abnegada dedicação ao exercício de suas múltiplas atividades, das quais se podem destacar as de professor e executivo público municipal.
Jornalista, Servidor público, Professor, Cronista Social, Escritor, FRANCISCO SOUTO SOBRINHO, ou simplesmente seu CHICO, é hoje, sem nenhuma dúvida, uma das personalidades mais expressivas desta nossa amada e apaixonante terra das salinas, a quem emprestou, por várias décadas, seu inquestionável talento. A sua trajetória é extremamente produtiva e de um elevado nível de operosidade, tendo desempenhado com imensurável competência, diversos cargos na administração municipal, entre os quais destaca-se o de Secretário Chefe de Gabinete dos prefeitos: Antonio Damásio, Coronel Ivo Pinheiro (Interventor), Carlos Antonio Soares, Luiz Duarte de Vasconcelos, Expedito Gomes Leonez e José Alfredo Rebouças. No Poder Legislativo Municipal, prestou sua valiosa contribuição como secretário da Câmara Municipal de Areia Branca. Homem com elevado espírito público, sempre teve livre trânsito entre os políticos locais, colocando seus préstimos acima de opções político-partidárias, fazendo prevalecer a sua competência e sua disposição de servir ao município e, conseqüentemente, a seus munícipes.
Sua atuação também foi marcante na área educacional, fazendo-se sempre presente aos mais importantes fatos culturais do município. Foi professor fundador da histórica Escola de Comércio de Areia Branca que formava com o poético Grupo Escolar Conselho Brito Guerra, uma simbiose perfeita de espaço cultural - onde não se tinha vergonha de cantar o Hino Nacional - e cuja história se confunde com a vida educacional do município e por cujos bancos escolares passaram boa parte das inteligências areia-branquenses. Seu currículo registra ainda o exercício de outras importantes funções ligadas à educação e sua participação em inúmeros eventos culturais no município e fora dele.
A vida social de Areia Branca teve duas fases: antes e depois de SOUTO SOBRINHO. Homem extremamente cordial e muito querido na sociedade local e estadual, angariou ao longo desse tempo, a simpatia e o reconhecimento por sua profícua atuação também no segmento social. Produziu e participou dos maiores e mais significativos eventos sociais da cidade, hora homenageando, hora sendo merecidamente homenageado, num exercício de justa reciprocidade a quem teve a aguçada percepção de valorizar e de reconhecer méritos em homens e mulheres da sociedade local e estadual, que prestaram relevantes serviços a seus municípios e ao Estado. Entre as muitas personalidades homenageadas por SOUTO SOBRINHO, destacam-se: ALBERTINO ALEXANDRE MACIEL – “O Mestre dos Mestres”, DEÍFILO GURGEL, o mais importante poeta e escritor areia-branquense; mas completam sua extensa relação de homenageados: governadores, prefeitos, desembargadores, juizes, reitores, empresários, jornalistas, escritores, advogados, médicos, religiosas, professoras, além de outros destacados profissionais.
Como escritor, materializou para a posteridade, o reconhecimento público a personalidades do cotidiano areia-branquense e estadual, através de seu livro “Crônicas Escolhidas”, um registro preciso e indispensável das virtudes e das ações produtivas de cidadania de homens e mulheres de bem. Seu imensurável prestigio na capital do estado levou à Capitania das Artes em Natal, em memorável noite de lançamento, em janeiro de 2002, um expressivo número de conterrâneos residentes em Natal, além de muitos amigos de Areia Branca e de todo o estado. Naquela noite, por generosa deferência do escritor tive a honrosa oportunidade de, como seu ex-aluno nos anos sessenta, saudá-lo em tão significativo evento cultural, sob o testemunho da leve brisa noturna, às margens do vigoroso rio Potengí.
O mestre DEÍFILO GURGEL, prefaciando “Crônicas Escolhidas”, com a autoridade cultural que o caracteriza, apesar da extrema simplicidade manifesta, sentencia que “todo livro de evocações é uma operação de resgate. Tenta-se salvar para o futuro o que o tempo, como um dragão insaciável, insiste em devorar”. O autor, SOUTO SOBRINHO, portanto, faz a sua parte em tentar perenizar fatos importantes do cotidiano, inserindo-os na história da terra do sal.
Suas habilidades parecem inesgotáveis. Como inesgotável é sua disposição para celebrar a vida. Apesar de sua extenuante carga de trabalho diário, incansável, encontrou tempo para ser um amante e profundo conhecedor da boa música, um dos lenitivos da alma, tendo se transformado, nos anos oitenta e noventa, num propagador da música clássica e erudita, através das ondas do rádio local, com seu “Música Divina Música”. Tal iniciativa garantira, para a satisfação plena de seus muitos ouvintes, uma salvadora alternativa para os simpatizantes da boa música, quando o apresentador com grande sensibilidade, tocava o que havia de melhor do repertório nacional e internacional, isto porque, como todos sabemos, a música é universal.
Então, podemos dizer que estamos diante de um homem diplomado, na Universidade e na vida, um multi-cidadão, na melhor acepção da palavra. Um cidadão em cujo coração bate a certeza do dever cumprido, para com sua terra natal, e para com seus semelhantes. Um ser humano em cujas veias circula o sangue da generosidade, da solidariedade e da consciência de servir ao próximo.
Um areia-branquense, octogenário, que faz a diferença.
ALCINDO DE SOUZA
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