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segunda-feira, 4 de abril de 2011

Cena Urbana, de Vicente Serejo, repercute carta deste Blogueiro























Alcindo de Souza e o jornalista Vicente Serejo


Tudo começou com a crônica "A lei e o vício", abaixo transcrita, publicada pelo jornalista Vicente Serejo em sua Cena Urbana, no Jornal de Hoje, edição de 28 de março último.

Este blogueiro, após a leitura do texto que considera leitura obrigatória para todos os brasileiros que se interessam por assuntos que lhe dizem respeito diretamente, escreveu a carta que também transcreve abaixo, tendo a mesma merecido a publicação generosa do referido jornalista em sua mesma Cena Urbana, JH de Sábado/Domingo, 2 e 3 de abril. Confiram os textos:

" A lei e o vício"

Jóvem, desejei ser advogado incentivado pelo exemplo de um tio desembargador, vítima de uma bala acidental que lhe tirou a vida aos 43 anos. Veio a consciência, antes de terminar o primeiro ano, e avisou ao futuro bacharel que seria desastroso tentar insistir. Livrei o fórum de suportar um advogado medíocre e aceitei a inclinação para este ofício menor de escrever notícias e crônicas. Dsde aquele tempo tenho medo do legalismo, monstro enlouquecido que nasce e vive nas entranhas da lei.

Até hoje, quando voi esquecendo, vem outro exemplo e espeta a consciência. Como agora, no julgamento dos políticos tichas suja. O Supremo Tribunal Federal não ousou para decidir ouvindo a voz rouca das ruas, como se diz na clicheria política. Ficou no limite estrito da lei como esta fosse maior do que o Direito e longe do clamor popular. E os fichas sujas vão assumir seus mandatos do quatro ou oito anos, de deputado ou senador, debaixo dos bigodes acabrunhados da opinião pública brasileira.

E a lei, Senhor Redator, alegam os que fazem o império da norma. A nós outros e aos próprios ministros que sabem da sujeira daquelas fichas, nada mais há a fazer. O Supremo é o Supremo. Depois dele, nestas terras da Ilha de Santa Cruz, só Deus. E Deus, até onde se sabe, é um ser acima das questiúnculas políticas e dos queixumes da politicagem. Que se cumpra, pois, a vontade da Corte. Aliás, é bem própriodo gosto monarquista que nunca nos abandonou, mesmo depois da República.

Não chego a repetir o jargão daqueles que afirmam ser o politico alguém que não teme e não pára na fronteira do pudor. Seria muito. Mas, entre perder o mandato ou a compostura, e isto é um fato, joga fora os dedos e fica ocom os anéis. É com eles - e o político pensa assim - que terá acesso à riqueza do poder que nem sempre precisa ser feita de ouro ou níquel, mas do brilho na lapela, lugar que a convenção social escolheu para exibir os dísticos da glória política a quem, desavisado, não souber.

A sujeira, portanto, é legal. Pelo menos até 2012, nas eleições municipais. Ninguém sabe se essa legalidade não sobrevive até 2014. Até lá, certamente teremos outras mãos sujas, mas também teremos governadores sonhando com a renovação de seus mandatos e uma vaga de senador para cada estado. O caldo grosso do poder, então, será mexido na fervura das ambições e dos desejos e só então se saberá se teremos nova interpretação capaz de vencer o determinismo brasileiro para a impunidade.

Ainda não foi dezta vez que o sol forte da opinião pública, como dizem os franceses, iluminou nossos juízes supremos. Não se duvida de suas auras feitas de um saber jurídico sólido e incontestável. Nem da boa fé de suas almas.

Mas é difícil compreender que a norma constitucional venha resguardar a impunidade. No meu caso, Senhor Redator, devo confessar, é mais difícil: além de faltar o saber ainda vicejam as ervas daninhas da ignorância na sua invencível incapacidade de compreender. Hélas! "


Na edição do JH, de 02 e 03 de abril, na mesma Cena Urbana, Serejo escreveu:

"Carta
Transcrevo a carta do advogado Alcindo de Souza. Seus elogios, mesmo nascidos da generosidade dos homens, fazem bem ao coração deste escrevinhador de crônicas e frustrado por não ser um pianista.

Prezado Serejo,
Não trago com a afirmação, nenhuma novidade, eu sei. Mas a sua Cena Urbana continua insuperável. “A lei e o vício" no JH de ontem, 28, teria que ser leitura obrigatória tanto para os observadores quanto e principalmente para os operadores do Direito do país.

Merece destaque, sem nenhum favor, nas lousas das universidades e faculdades de Direito Brasil afora.

Apesar de otimista, não alimento esperanças de que o seu texto seria lido ou recebido alguma importância por parte de algum constitucionalista de Brasília, infelizmente.

Como você bem diz, “ainda não foi desta vez que o sol forte da opinião pública, como dizem os franceses, iluminou nossos juízes supremos. Não se duvida de suas auras feitas de um saber jurídico sólido e incontestável. Nem da boa fé de suas almas. Mas é difícil compreender que a norma constitucional venha a resguardar a impunidade”.
Mas infelizmente é a sensação que invade a percepção deste humilde e ignorante do Direito formal que ousa lhe escrever para associar-se, com a devida vênia, ao seu sentimento de inconformismo motivador do texto, sem nenhum resquício de bajulação ao competente jornalista.

Outra impressão digna de registro é a impressionante capacidade de nossos legisladores de produzir leis dúbias ao que parece propositais, para que nos tribunais de Brasília sejam descaracterizadas e produzam ai sím, o efeito desejado ou nenhuma eficácia. Como consequência, a constatação de que o Poder Público continua sendo um dos principais “clientes” do Judiciário.

De resto, o que fica não é apenas a sensação mas a certeza de que a Lei – no Brasil - não é para todos, assertiva ratificada recentemente em entrevista às páginas amarelas de Veja, pela mais alta autoridade judiciária do país, o ministro César Peluso, presidente do Supremo Tribunal Federal, que considerou tal realidade uma iniquidade, ou em bom português, grave injustiça.
Com a sua licença e também a do seu compreensível Redator, não compreendo por tenha que ser assim.

Mas, prezado Serejo, se o destino nos livrou de um possível operador medíocre do Direito, ele também nos presenteou com um escritor jornalista que escreve o que a gente pensa e assim, empresta à opinião coletiva, o talento e a inteligência indispensáveis para dar crédito as inquietudes cidadãs de meros mortais que somos.

Cordialmente,

Alcindo de Souza.


Nota do Blog:
Como registro final, o agradecimento ao cronista e escritor Vicente Serejo, autor de uma das págimas mais lidas do Jornal de Hoje, pela deferência generosa da publicação da Carta em seu prestigiado espaço da mídia escrita potiguar e uma correção: não sou advogado como imaginou ou deduziu o nobre jornalista.

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